O nome era imponente, mas Roberto Valfredo Bicca Pimentel ficou conhecido por uma alcunha bem direta, que repetia a mesma sílaba três vezes, formando um apelido tão sonoro quanto facilmente identificável: Tatata. Se já não fosse suficiente este cartão de visitas simples e original, obrigando a quem se dirige a ele estalar a língua três vezes em direção aos dentes, Tatata, nos 74 anos de sua feérica existência, ainda deixou um legado de inteligência, bom humor, sagacidade, cultura e companheirismo. Lembrança esta que permanece viva na imagem dos que o conheceram e que ainda hoje – dez anos após sua morte – recordam com carinho da sua presença. Tatata foi múltiplo em múltiplas atividades. Aliás, tão múltiplo que fica difícil apresentá-lo: professor de literatura, colunista de jornal, comunicador, apresentador de TV, proprietário de galeria, RP, diretor do Museu de Artes do Rio Grande do Sul e do Atelier Livre, conhecedor íntimo da obra de Marcel Proust, de ópera, de musicais da Broadway e de peças de Beethoven, Mozart e Bach. Dono de humor refinado – tão refinado quanto o cavanhaque que emoldurava sua boca – e de um gosto requintado, o que não o impedia manifestar hábitos mais plebeus, como sua preferência por uísques nacionais em relação aos scotchs, como lembrou recentemente a sua amiga Eleonora Rizzo. Tatata foi inimitável.

Fui uma das últimas pessoas a falar com ele. Tatata foi encontrado morto na manhã do dia 24 de outubro de 2012, vítima de um enfarte agudo do miocárdio. Na noite anterior, liguei para a casa dele, já que dificilmente conseguia falar com ele por celular. Atendeu ao primeiro toque. Nos poucos mais de seis anos em que estive à frente da Coordenação do Livro, poucas pessoas ficaram tão identificadas com o nosso trabalho quanto ele. Por duas vezes, nos deu a honra de ser jurado do Prêmio Açorianos de Literatura. E, em 2011, no Festival de Inverno, foi o responsável por um dos cursos mais animados e inteligentes que o público de Porto Alegre pôde presenciar.

Minha ideia ao telefonar para ele era tratar de dois assuntos: lembrar do lançamento de Na Ponta da Agulha, livro de Claudinho Pereira que seria autografado na Feira do Livro nos próximos dias – e no qual ele era um dos personagens mais presentes – e fazer um convite para que ele fosse o apresentador da noite de entrega do Prêmio Açorianos. Me pareceu feliz com os dois convites. Disse que iria no lançamento e aceitou ser apresentador, prometendo que passaria lá na coordenação nos próximos dias para acertar os detalhes. Antes, como me explicou, precisava resolver dois assuntos mais urgentes: cortar o cabelo e definir o roteiro final da viagem que faria à Europa na semana seguinte. Despediu-se animado, mandou lembrança aos meus pais – como sempre fazia – e confirmou o encontro. Estava cheio de planos e ideias.

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