Água na Boca: boemia elegante no Centro de Porto Alegre, por Marcello Campos/Jornal do Comércio

 

 

Assentada em uma área onde o Centro Histórico hoje paquera o bairro Independência, a Praça Conde de Porto Alegre tem sua origem em 1778, quando as trincheiras que protegiam o acesso terrestre à capital da Província ganharam uma cancela, bloqueada ao cair da tarde para dificultar a vida de possíveis intrusos – há quem ainda chame o local pelo antigo nome de Praça do Portão. Pois os invasores noturnos seriam muito bem-vindos diante desse mesmo espaço triangular, 200 anos depois, com a instalação de um concorrido ponto de encontro: a boate Água na Boca (1979-1987).

Bem-nascidos. Novos-ricos. Empresários. Servidores. Artistas. Músicos. Atletas. Comunicadores. Socialites. Colunáveis. Mulheres deslumbrantes. Em claros e escuros, um irresistível jogo de espelhos, luzes, música, drinks e egos se abria a sedutoras possibilidades no subsolo do finamente decorado palacete número 55 do trecho prolongado da rua Doutor Flores, entre Riachuelo e Duque de Caxias. Tudo em contraste com as origens do imóvel de três pavimentos, erguido em 1920 e que havia demorado mais de meio século para ter descoberta sua vocação a esse tipo de atividade.

Quem diria? Em uma zona rica em bares porém carente de boates de gabarito, a construção já havia servido como residência de um imigrante do Líbano, consulado do país árabe, empresa de importação e exportação, distribuidora de medicamentos e escritório do Teatro Leopoldina (1963-1984), até acolher o primeiro pub londrino da capital gaúcha. Fechadas as portas desse último no segundo semestre de 1980, entraram em cena os jovens Rui Willig e Pedro Mello (1954-2016), um dos mais brilhantes nomes do ramo no Rio Grande do Sul.

A sintonia perfeita entre os talentos administrativos e promocionais da dupla deixaria seu carimbo na memória cultural de Porto Alegre. Entre os seus protagonistas há inclusive uma opinião consolidada sobre a Água na Boca como o segundo melhor estabelecimento que a cidade já conheceu no gênero, em meio a uma lista de centenas de lugares relevantes com esse perfil no Estado. “Se o Encouraçado Butikin (1965-2003) foi a número 1, também é verdade que gente ocupa com folga a vice-liderança no pódio”, orgulha-se Willig, que hoje atua como consultor no mercado financeiro.

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