Discoteca Crocodillo’s embalou noites de Porto Alegre por quase 20 anos, por Marcello Campos/Jornal do Comércio

 

 

Se houvesse um termômetro capaz de medir a “febre da discoteca” no Brasil na segunda metade da década de 1970, o dispositivo explodiria, espirrando música dançante para todos os lados. O subgênero surgido nos Estados Unidos em 1975 como um derivado do funk desembarcou no Rio de Janeiro no ano seguinte, com a boate New York City, e teve seu auge no Brasil em 1978 com o longa-metragem norte-americano Os Embalos de Sábado à Noite e a novela global Dancin’ Days, de estreias separadas por apenas uma semana. Todo mundo queria ser John Travolta ou Sônia Braga.

Porto Alegre logo deu um jeito de entrar na dança, mesmo com atraso. A danceteria Looking Glass já funcionava no bairro Menino Deus desde abril e ganhou três concorrentes diretas: no mês seguinte era inaugurada a Kokeluche (bairro Bom Fim) e, em outubro, a Papagayu’s (Floresta) e a Crocodillo’s (Auxiliadora), mais elitizada e que só não foi a pioneira local das discotecas porque sua montagem demorou 18 meses. Em compensação, acabaria sendo a mais longeva do grupo, com portas abertas por 17 anos – por motivos variados, as rivais teriam seus neons apagados até 1982.

A trajetória da “Croco” (o povo adora apelidos) começa no primeiro semestre de 1977, com dois jovens funcionários de uma agência do Banco Nacional (1944-1995) na Rua da Praia. Decididos a apostar no ramo de casas noturnas mesmo sem experiência nesse tipo de negócio, o gerente Paulo Roberto de Paula e o tesoureiro Fábio Reis fizeram um giro pelo eixo Rio de Janeiro-São Paulo, a fim de observar de perto uma cena local onde se destacavam estabelecimentos como New York City, Frenetic Dancing Days e dois de denominação “zoológica”: Hippopotamus e Papagaio.

“Essa viagem, feita durante as férias, reforçou o nosso plano de abrir em Porto Alegre algo com o mesmo alto nível”, conta Paulo Roberto, 67 anos, atualmente responsável por uma imobiliária. “Ao visitar o hotel Copacabana Palace, na Zona Sul carioca, deparamos com uma loja chamada Le Crocodile, que acabou inspirando o nome do nosso empreendimento. Voltamos cheios de ideias, faltando apenas conseguir um lugar adequado e o dinheiro necessário para tirar do papel o nosso plano. A coisa era para valer e, pouco tempo depois, deixamos nossos empregos.”

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