MP investiga interferência do crime organizado nas eleições no Piauí, por Hugo Marques/Veja

 

 

O Código de Processo Penal prevê a concessão de certos benefícios para criminosos que tenham bom comportamento e já cumpriram parte de suas penas — o de trabalhar fora da cadeia, por exemplo. Ramon Santiago Matos Nascimento está detido desde novembro do ano passado numa penitenciária no município de Altos, no Piauí, distante 40 quilômetros da capital. Segundo a polícia, ele é membro ativo de uma quadrilha de traficantes de cocaína. Cuidava da logística do transporte e do armazenamento da droga importada da Bolívia e distribuída no estado. Os investigadores bloquearam 30 milhões de reais encontrados em contas bancárias mantidas pelo grupo, apreenderam carros importados e confiscaram imóveis de luxo. Ramon foi denunciado pelo Ministério Público por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Se condenado, pode pegar até 38 anos de prisão. Em tese, se atendesse aos requisitos da lei, na melhor das hipóteses só poderia deixar a cadeia para trabalhar daqui a no mínimo dois anos. Em tese.

No início de fevereiro, porém, apenas dois meses depois de ser preso, ele já estava trabalhando fora. O traficante foi contratado pela Assembleia Legislativa do Piauí, exercia a função de assessor parlamentar, ganhava 9 000 reais de salário e cumpria expediente. Consta, inclusive, que ele assinava a folha de ponto, como qualquer um dos 3 500 funcionários que ocupam cargos de comissão na instituição. Ramon, é óbvio, nunca deixou sua cela, não deu expediente algum nesse período, mas recebeu os vencimentos. As autoridades ainda não sabem explicar exatamente como isso aconteceu, mas dizem que o caso é um exemplo do nível de infiltração do crime organizado na política do estado. O traficante foi nomeado pelo presidente da Assembleia, deputado Franzé Silva (PT), a pedido do deputado Georgiano Neto (MDB). PT e MDB formam uma aliança política que governa o Piauí há três décadas.

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