Indicação: “A hora dos ruminantes”, por José J. Veiga

 

 

A hora dos ruminantes conta a história da pequena cidade de Manarairema, que vê a sua rotina alterada por acontecimentos inexplicáveis.

Primeiro uma legião de homens, de procedência desconhecida, decide acampar na cidade. Os moradores, temendo represálias e com medo dos visitantes misteriosos, passam a especular sobre a intenção do grupo.

Depois, a cidade é tomada por cães, que chegam às dúzias no vilarejo, causando uma inversão de papéis: enquanto os moradores ficam acuados em suas casas, os animais passeiam livremente pela cidade. E, por último, a chegada de centenas de bois completa o quadro alegórico do romance.

Mas uma tarde, já ao escurecer, como obedecendo um comando secreto, todos os cachorros cessaram o que estavam fazendo, farejaram o ar, limparam os pés e dispararam no rumo da tapera, atropelando gente e se atropelando. (…) As pessoas ficaram sem saber o que pensar nem o que fazer, com medo de se descontraírem antes da hora e terem de repor a máscara às pressas. (VEIGA, 1991, p. 38)

José J. Veiga possui uma qualidade que inúmeros autores gostariam de ter, pois é capaz de agradar tipos muito diferentes de leitores, de jovens estudantes a leitores maduros, de admiradores da prosa fantástica aos fãs da narrativa realista.

A prosa realista torna mais fortes as parábolas evocadas pelos eventos inexplicáveis. As maneiras rudes e os hábitos arreigados de cidade pequena são comuns a qualquer leitor, o livro remete a uma época onde a honra de uma pessoa tinha o peso da sua palavra. Isso gera uma ambiguidade de comportamento quando os personagens devem manter um teatro aberto, onde sua reputação está em jogo com o que quer que digam, onde a “máscara” de normalidade deve ser mantida a qualquer custo, mesmo quando a curiosidade supera a discrição. O resultado é cômico e estranhamente familiar.

Quem havia de dizer que Manarairema ia mudar em tão pouco tempo… Antigamente a gente vivia descansado, sossegado, dormia e acordava e achava tudo no lugar certo, não era preciso pensar nada adiantado. Hoje a gente pensa até para dar bom-dia. O que foi que nós fizemos para acontecer isso? (VEIGA, 1991, p. 47)

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